terça-feira, 19 de maio de 2009

passagem do presente

Quero viver o agora que evapora,
ficar com no mínimo o calor
do vapor nas mãos, não mais que isso
ter a decência de abandonar
saber o que serviu e transformá-lo

Transformando meu ser, para que
eu posa entender o momento que sou
Nunca me saberei por inteiro
estou em movimento e ele não tem fim

passagem das horas

A espera
que as horas arrastam
internáveis, sonolentas
desprender se e olhar com
os olhos do outro

a escolha
ser ou não, já não faz
diferença
desde que a hora termine

Há um cansaço profundo
como quem vem de um campo
de guerra branca
não há sangue
mas todos estão mutilados
de alguma maneira

Não há inimigos,
Há abrigo no peito
calado que escolhe
que olha atento
todos os movimentos

Difícil ser uma parte
Difícil escolher
enquanto o dia
não amanhece
e as noites
são de corpos em
guerra

Estratégia obscena
prazerosa
trazendo golpes pelo
corpo enquanto a hora
não chega

Mas que ela chegue
sem dor e em paz
até aqui foi grande
e será sempre grande

Não há julgamento
Não há lamentos,
nem tristeza
Há respeito pelo
o que tem sido,
pelo outro,
por uma história
que nasceu de uma brincadeira
e transformou-se
no que ainda nem sabemos

para luli

domingo, 17 de maio de 2009

movimento da revelação

Agora já não há o medo
o frasco espalhou seu cheiro
e encheu a sala de horrores muitos
os risos de espanto contidos pelos cantos
cindindo a vontade da não verdade com o medo

Olho a todos e todos me olham, não mais
como humano, mas como sub-espécie
Não me incomodo, nem esperava diferente olhar
a mesma sensação, convive em mim há anos

Eu e meu devir para alem de mim e dos que me cercam
O que me resta são certezas, não dissabores
Vou construindo minha teia, alheia a qualquer pensar
sobre mim construído

Quem poderá saber dos meus caminhos 
a não ser eu mesmo?
Não forço ninguém a entrar, convido-os apenas
Que cada um faça a sua escolha,
a minha, em algum momento foi imposta
Abro portas e janelas pra que exalem os odores
da casa em reconstrução
quem suportar que aproxime se

primeiro movimento

As cores gritam os olhos e falam de coisas da alma. O estranho é nada e o simples absurdo, reflexão, olhar além do que aparenta sentindo o gosto do momento. Já não importa se faz firo. Aqui dentro parece outono, mas as folhas não caíram. A imagem traduz um pouco do que vejo, a cor intensa e totalmente sem foco, só para esquecer ou lembrar o que está por trás.

Quero viver a vida cravando os dentes sem medo da mordida, sem medo de nada. Me ponho no centro do furacão e não na tangencia apática do espectador frente a TV, em busca de algo que o faça sentir se vivo. Uma vez aqui, que venha tudo o que puder, assistirei a essa passagem do lado de dentro sendo parte do acontecimento.

Entrei num túnel louco que não sei onde vai dar, nem o que vai ser expelido. Mas pra que saber? Se nada é o que agente pensa e a vida nos faz ver com os olhos dela. Não temos controle de nada e estamos ai perdidos, então deixa jogar, bater na pedra que for, escoar na areia no momento que tiver que ser.

O medo inibi a vivencia do imutável e cega a possibilidade de discernimento. Se é impossível fugir quero ver tudo as claras, a dor na dor, a felicidade na felicidade, perceber todos os sentidos. Corpo e cérebro como maquinas que são, com funções inúmeras e não como uma ameba.

Observar dentro e fora como quem vê e como quem olha, não se faz necessário a busca desenfreada, porque tudo vem ao encontro em seu saber olhar

Quando for o momento, aproxime se devagar para que eu deguste sua imagem lentamente. Pra que minha memória tenha tempo de reconstruir seu ser. E na hora da partida repita o gesto, na mesma lentidão, que sua imagem se fragmente, borrando o quadro até desaparecer completamente.

E assim poder entender o ciclo de cada acontecimento, sem importar-se com sua duração, mas o que o movimento dela causa.
Olhar o mundo como quem olha o vazio com barriga cheia e sem certeza de nada.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

movimento da despedida

Pelos cantos da casa
ficou o cheiro misturado com dor
soltos, pelos alheios contam as noites
e molham minha boca de beijo outra vez
O Espelho quebrado pela mentira
reflete a ilusão de uma história que não foi

meus dedos correm soltos ao encontro
e só o travesseiro, fala o vazio
A toalha úmida, pendurada na grade,
parece, custa querer secar seu ser,
como custa passar as horas
e o novelo dos meus pensamentos
desfazendo e refazendo a mortalha do meu sentimento

Consome a dor, o que vê pela frente,
o vazio grita na lembrança tardia, as manhas despenteadas
montadas a pelo, fluidos no lençol com cheiro de creme
sua voz pedindo carinhosamente pornografia
...me enche...
delicia de quem sente, desejo de quem gosta,

A casa, uma caixa de lembranças
com essa história confinada dentro dela,
arquitetado cuidadosamente para que
nada passasse de suas paredes,
para que a mentira mantivesse o Seu prazer duo
E eu enganado como criança pelo doce
deixei que assim seguisse
acreditando felicidade

Mas a tarde, chegou a verdade sem aviso
levou tudo o que tinha pelo caminho
Perplexo tento juntar gestos, pedaços de palavras, resíduos,
sem saber se isso monta algo
do que nem sei se restou.

para luli